É por meio da linguagem que o mundo se movimenta, além disso, quem é que nunca ouviu falar sobre o poder das palavras? É através dessas ferramentas que as pessoas compartilham ideias, influenciam pessoas e provocam mudanças sociais.

Normalmente a fala e a linguagem se desenvolvem cedo e são mecanismos fundamentais ao longo da vida. Durante o crescimento, a fase das descobertas é uma grande alegria para os pequenos e, principalmente, para os pais. Mas, antes de aprenderem a falar, as crianças primeiro se comunicam. E, elas só conseguem fazer isso por meio da linguagem, definida como um universo mais amplo da comunicação. 

Quando ainda está na barriga da mãe, o bebê consegue ouvir os sons e responde com movimentos. Após o nascimento, para chamar atenção, ele chora. O agitar dos braços e pernas reivindica colo e alimento. É por conta destas etapas, das expressões não verbais, que o cérebro amadurece progressivamente, para que outras habilidades se desenvolvam de maneira satisfatória.

Fala e Linguagem: qual a diferença

É comum as pessoas confundirem fala e linguagem e a pergunta é: as duas são a mesma coisa? E a resposta é não. Em um processo prático, a fala é o ato de falar, de movimentar a boca e os músculos de maneira precisa e harmônica para articular os sons e expressar o que se deseja. Já a linguagem é um universo maior, onde a fala também está inserida.

Para a fonoaudióloga Ana Leonor Bancillon, especialista em desenvolvimento infantil, a linguagem é o pensamento e a compreensão. Ela diz que as pessoas pensam com a linguagem. “O pensamento é formado por uma série de palavras que têm significados. Essa linguagem é construída a partir da recepção auditiva do som e da associação desse som a significados”, explica Ana, que é também diretora do Instituto Fale, centro referência em Primeira Infância em Brasília. 

A especialista esclarece que a linguagem ocorre por meio de vários aspectos linguísticos, são eles: semânticos, pragmáticos e morfossintáticos. A partir dos pensamentos,  a semântica entra em ação, ele se refere a compreensão dos significados. A pragmática é a razão pela qual se deve comunicar dentro de um contexto apropriado. Já a morfossintaxe remete a organização das palavras em frases, de acordo com as regras da língua.

Ela ainda explica que uma criança que entende de linguagem pode não falar por conta de complicações motoras, isso porque, antes de conseguir falar é preciso ter desenvolvidas outras habilidades de linguagem, como a comunicação verbal e não verbal.

Antes de tudo, é interessante saber que o termo “verbal” é originário do latim “verbale”, que vem de “verbu” e significa palavra. Dessa forma, entende-se  que a linguagem verbal é a que faz uso de palavras para transmitir a mensagem. Já a linguagem não verbal acontece por meio de outros signos, como símbolos, ícones, desenhos, gestos e sinais sonoros. Como por exemplo: nas vias de trânsito o sinal vermelho no semáforo indica a parada obrigatória, no celular o desenho da câmera indica o uso para tirar fotos.

Existe ainda a linguagem mista, que se utiliza das duas formas de comunicação, onde se encontram desenhos e palavras, como nas famosas histórias em quadrinhos.

Quando o atraso de fala e linguagem sinaliza risco para o desenvolvimento das crianças?

Um atraso de fala ou de linguagem devem ser sim motivo de preocupação para os pais, isso porque as crianças devem acompanhar os marcos do desenvolvimento infantil. Eles são as referências para o crescimento das crianças.

É na primeira infância, período que corresponde da gestação até os 6 anos de idade que ocorrem as evoluções mais significativas na vida dos pequenos. Fase em que cérebro se encontra mais receptivo aos estímulos. Sendo assim, o primeiro ano de vida é marcado por conquistas, como as expressões por meio do olhar, o controle da cabeça, o rolar, o arrastar, logo mais o sentar,engatinhar e os passinhos.

A fonoaudióloga e diretora do Instituto Fale Ana Leonor, explica que a partir dos nove e doze meses, a criança já começa a compartilhar a atenção. Apontar e mostrar coisas que saltam aos olhos. Como por exemplo, a criança vê um passarinho, aponta e espera que alguém fale pra ela, “olha o passarinho”. Por volta de 1 ano e 1 ano e dois, a criança já começa a levar o adulto até  onde ela deseja. E a partir desse marco de um ano e um ano e meio, um ano e dois meses, ela começa a falar as primeiras palavras, como mamãe e papai. Já com 2 anos, a criança deve conseguir construir frases e ter um bom repertório de palavras.

A especialista enfatiza que os marcos do desenvolvimento da fala e da linguagem são muito claros. Quando existe um atraso é necessário fazer uma avaliação.“Não existem atrasos ou transtornos no desenvolvimento da fala e da linguagem sem causas. A criança pode até ter um desvio fonológico onde ela pode trocar os sons das palavras. O que é totalmente diferente quando se pensa em um transtorno ou um atraso de fala e da linguagem”, explica.

Outro fator importante a ser levado em consideração é observar se a criança tem intenção comunicativa. Em outras palavras, a criança deve conseguir refletir e comunicar aquilo que deseja. 

Por estes motivos é importante observar estas etapas de evolução, quando esses processos de comunicação não ocorrem de maneira satisfatória, os pais devem ficar atentos porque acúmulos de atrasos não é normal. Para a fonoaudióloga, uma criança de 1 ano e meio ou 2, que ainda não fala, deve conseguir pegar na mão da mãe, levá-la até a cozinha e apontar para o pote de biscoito se estiver com fome, para mostrar que ela quer biscoito, por exemplo. Ou se ela quer assistir tevê, ela pode pegar o controle e entregar na mão de quem quer que seja para que liguem para ela.

O que fazer para estimular o desenvolvimento das crianças?

Não é de hoje que os vínculos afetivos fortes, seguros e saudáveis são importantes para o crescimento de qualquer pessoa. E isso não é diferente no processo de desenvolvimento das crianças. Ambientes acolhedores e a participação familiar colaboram para essa fase cheia de possibilidades.

Para a fonoaudióloga, proporcionar às crianças um ambiente rico de atividades, repertório extenso de música, de linguagem e interação, é a melhor opção para o desenvolvimento cognitivo. “A variedade de histórias, brincadeiras e brinquedos que trabalham a imaginação e criatividade é essencial para o processo, quanto mais repertório melhor.”

A especialista explica que não é a quantidade de brinquedos que importa, mas sim a forma que serão usados. “As crianças precisam de lazer, as melhores oportunidades estão no dia a dia. Elas podem ajudar a fazer comidinha de verdade, brincar no quintal, fazer piquenique, transformar a sala de casa em acampamento.”

Ana Leonor explica que essas atividades não são tão comuns hoje em dia, mas que fazem a diferença para o desenvolvimento da habilidade de construir, interrelacionar e na capacidade de resolver problemas.

Ela ainda afirma que oferecer uma série de equipamentos eletrônicos que facilitam tudo para as crianças podem prejudicá-las neste processo. “A criança precisa pensar por si para construir resultados. O desenvolvimento cognitivo evolui com habilidade de associação de ideias e construção de soluções.”

A especialista explica que as crianças devem planejar ações e estratégias ao brincar e recomenda que os pais deixem os brinquedos prontos de lado e apostem em brinquedos com peças, como o Lego. Essa atitude vai proporcionar para as crianças a oportunidade de transformar e construir. “Com o mesmo bloco ela pode fazer um carro, um caminhão, um avião, uma nave espacial e até mesmo um castelo. O divertido são as inúmeras possibilidades de brincar”, elucida.

Além disso, é essencial que os pais ou cuidadores passem tempo com os pequenos, como explica a diretora do Instituto Fale, centro referência no tratamento de Apraxia de Fala na Infância em Brasília. “O tempo de qualidade é a principal orientação. É importante que os pais estejam dispostos a sentar no chão, olhar no olho, cantar músicas juntos, ler historinhas, brincar de faz de conta”. Essa partilha faz toda a diferença na construção do ser. “É preciso conversar com as crianças como se elas estivessem entendendo, porque elas realmente entendem”, afirma.

Ainda segundo a fonoaudióloga, o aprendizado diário produz um agrupamento de informações no cérebro. Ela esclarece que toda vez que a criança for comer, os pais podem falar o que elas estão comendo. Dessa forma elas podem aprender os nomes dos alimentos e com o tempo ir dizendo o que ela quer e o que gosta ou não de comer. 

Para Ana Leonor, a interação dos pais nesse processo de construção é fundamental, porque a criança consegue ganhar repertório à medida que cresce. Ela demonstra que a construção da linguagem se fundamenta em fazer associações dos sons das palavras. “Então, se a criança está comendo feijão e sua mãe diz que aquilo é feijão, essa informação será guardada. Dessa maneira, ela conseguirá vincular o alimento com o nome, a imagem, o gosto e o formato”. Ela ainda afirma que essas aquisições de informações é um processo contínuo para tudo que a criança for fazer.

Quais são as causas para os possíveis atrasos?

 Para Ana Leonor Bancillon, as causas de atraso de fala podem ser descritas por diversos fatores e, geralmente, podem estar atrelados a outros transtornos. Como distúrbios de linguagem (Apraxia de Fala infantil), alterações do neurodesenvolvimento como a deficiência intelectual, o Espectro Autista e a Afasia motora de expressão. 

Para a especialista, também é necessário avaliar a condição motora oral da criança.“Para entender em qual eixo do desenvolvimento está a base do atraso ou do possível transtorno, é essencial avaliar todos os outros aspectos da criança para que haja intervenção”, afirma.

A Apraxia de fala Infantil pode ser uma possível causa no atraso de fala, o distúrbio motor afeta a habilidade na precisão dos movimentos que são necessários ao ato de falar. Entre 5% a 10% das crianças em idade pré-escolar têm alguma dificuldade de se comunicar. Desse total, pelo menos 3% desses casos estão associados à Apraxia de Fala na Infância. Segundo a Associação Brasileira de Apraxia de Fala na Infância e Adolescência (Abrapraxia). Ainda de acordo com o órgão, as causas do distúrbio podem estar ligadas a várias condições, como: infecção, doença ou trauma durante a gestação ou após o nascimento da criança. Transtornos do neurodesenvolvimento, origem genética, metabólica ou doenças mitocondriais. Outro fator importante é a Apraxia Idiopática, causa desconhecida.

Outro fator é o transtorno do espectro autista (TEA), de acordo com o Ministério da Saúde, é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por déficits na comunicação (verbal e não verbal). Pessoas com o distúrbio possuem dificuldade na interação social, em manter contato visual, expressar emoções e sentimentos, fazer amizades. Também podem apresentar dificuldades severas na comunicação e alterações comportamentais, como manias, repertório restrito de interesses e atividades e comportamentos repetitivos e estereotipados.

Segundo estimativas globais das Organizações das Nações Unidas (ONU), 1% da população tem autismo em todo o mundo. No Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas são autistas. Prevalecem os fatores genéticos para as causas do autismo, que também podem ser hereditárias. Além de condições ambientais que podem estar associados com a idade avançada dos pais.

Já na Afasia de expressão (motora, não fluente ou de Broca), a capacidade de produzir as palavras é prejudicada. O distúrbio de linguagem também pode afetar a capacidade da escrita e leitura oral. Geralmente a causa pode ser por alguma lesão ou acidente vascular cerebral (AVC), ou pode se desenvolver aos poucos durante o crescimento de tumores ou doenças degenerativas.

Qual é o tratamento recomendado em casos de atraso no desenvolvimento de fala e linguagem?

Os pais devem procurar ajuda de um fonoaudiólogo especializado no desenvolvimento infantil. Além disso, o acompanhamento pode ser realizado por meio de uma equipe multidisciplinar com outros profissionais.

A fonoaudióloga, diretora do Instituto Fale, esclarece que o tratamento é feito focando nas dificuldades de cada criança. Para ela não existe um tratamento único, cada criança tem suas especificidades.“Para que o desenvolvimento da criança possa acontecer, deve ser feita uma avaliação personalizada. A partir disso, o plano de intervenção apoiado em metas é elaborado”.

Ana Leonor Bancillon, explica que uma criança de 2 anos e meio, que consegue apontar o dedo para tudo o que quer. Responde com a cabeça quando oferecem algo a ela. Que tem um bom brincar, consegue fazer representação (coloca o neném para dormir, dá comida). Essa criança possui uma boa interação e intenção comunicativa, mas se não consegue produzir palavras, ela deve fazer terapia direcionada para que a produção articulatória da fala e planejamento motor oral se desenvolvam.

Para a especialista, o mesmo acontece com uma criança que não tem uma boa intenção comunicativa, não possui um brincar compartilhado. A terapia deve ser realizada observando primeiro esses déficits. Para depois focar na produção de fala. “Então, é preciso observar dentro das necessidades da criança quais são os marcos que estão alterados e em qual frente ela precisa de intervenção”, afirma.

O Instituto Fale é o principal centro de referência para a Primeira Infância em Brasília. Nossos profissionais são especialistas em desenvolvimento da linguagem, fala, cognição e habilidades motoras. Fazemos atendimento bilíngue e provemos total acolhimento às famílias atendidas. Agende aqui sua primeira consulta.