A habilidade de compreender e criar conceitos mentais de tudo o que é aprendido está ligada à linguagem. É a capacidade de se comunicar através da fala, da escrita ou de outros signos que possibilita o ser humano transmitir ideias, sentimentos, emoções e arte. São parte ainda do processo de comunicação o ouvir, o compreender, o falar e o compartilhar, sendo esses elementos essenciais para a socialização e a integração das pessoas na comunidade.

É no primeiro ano de vida que as crianças começam a desenvolver a fala, pronunciando as primeiras palavras, geralmente “mama” (mamãe) e “papai”(papai). Já a capacidade de formar as primeiras frases começa a surgir a partir dos 18 meses, com frases como “dá bola”, “qué mais”. Com 24 meses a criança já consegue falar cerca de 50 palavras e logo depois dessa fase acontece o que é chamado de explosão linguística. É inclusive nessa fase da infância que papais e mamães começam a perceber possíveis atrasos na fala de seus filhos, como explica a fonoaudióloga Ana Leonor Torrano Grecco, diretora clínica do Instituto Fale, principal centro de referência na Primeira Infância em Brasília. “É muito comum que crianças que são muito caladinhas e quietas, demorem a receber o diagnóstico de atraso no desenvolvimento da linguagem \ fala. Geralmente são crianças que se comunicam com gestos e demandam pouco, ou desistem facilmente quando não conseguem se comunicar. Nestes casos, geralmente os pais só buscam ajuda quando as birras e o choro, decorrente da inabilidade de se comunicar oralmente, aparecem.” 

Quando os pais devem ficar atentos?

Ana Leonor explica que, por mais que o costume popular diga que cada criança tenha seu tempo para falar e se desenvolver, quando se trata do desenvolvimento na Primeira Infância, cada instante conta. Isso porque atrasos de fala e linguagem nessa etapa da vida podem acarretar em prejuízos para a criança no seu desenvolvimento até a fase adulta.

A especialista conta que a linguagem não é somente uma ferramenta mediadora, que capacita a comunicação, a inclusão e o aprendizado, mas é o principal marco do desenvolvimento infantil. “Durante muitos anos acreditou-se que deveríamos acompanhar apenas os marcos do desenvolvimento motor da criança, como sustentar o pescoço, engatinhar, andar. Hoje se sabe que a linguagem, de fato, é o maior marcador. Não existe essa história de que cada criança tem seu tempo. Os marcos do desenvolvimento da linguagem são claros e precisamos estar muito atentos. É fundamental que se entenda que linguagem é pensamento, pensamento é cognição. Logo, atrasos no desenvolvimento da linguagem impactam no desenvolvimento cognitivo da criança.” Portanto, se com 1 ano de vida a criança não emite nenhum som, não reage e nem tenta repeti-los e com 2 anos não consegue construir frases ou prefere gestos para se comunicar, é importante que os responsáveis procurem a orientação de um profissional.

Ana Leonor diz que os marcos da infância são muito claros: “Entre 12 e 14 meses, a criança tem um repertório de cinco palavras. Com 18 meses é esperado uma média de tentativa de fala de cerca de 20 palavras e com dois anos, esperamos um repertório de 50 palavras”, conta. “Essa história de que, até cinco anos a criança vai falar, não existe! Até cinco anos é esperado que a criança tenha adquirido todo o repertório fonológico, tenha inteligibilidade de fala de cem por cento, seja capaz de argumentar, questionar, construir histórias. Uma criança que ainda não fala aos três, quatro anos, não alcançará estes marcos até os cinco, especialmente se essa criança apresentar um transtorno ou atraso motor da fala ”, pontua a profissional.

O que é a Apraxia de Fala na Infância?

De acordo com a Associação Americana de Fonoaudiologia (Asha), a Apraxia de Fala na infância  é um distúrbio motor da fala que afeta a habilidade de transmitir ideias do cérebro para a boca, o que dificulta a produção dos sons para que a fala seja efetivada. Sendo assim, a criança não consegue planejar os movimentos sequenciados para que a fala ocorra sem interferências no tempo e na ordem certa. Existem níveis de gravidade do distúrbio, são eles: leve, moderado e severo. De acordo com a Associação Brasileira de Apraxia de Fala na Infância e Adolescência (Abrapraxia), entre 5% a 10% das crianças em idade pré-escolar têm alguma dificuldade de se comunicar. Desse total, pelo menos 3% desses casos estão associados à Apraxia de Fala na Infância.

A apraxia tem tratamento?

A Apraxia de Fala tem tratamento e quanto mais precoce o início da intervenção, melhores são os resultados alcançados, esclarece Ana Leonor Torrano Grecco. Isso porque a criança que apresenta o atraso de fala pode ter também outras dificuldades associadas, como o atraso no desenvolvimento cognitivo e da linguagem (comunicação verbal e não verbal) e no processo de aprendizagem. Apesar dos desafios que a condição impõe, a diretora do Instituto Fale reforça que são amplas as possibilidades de tratamento para a Apraxia de Fala na Infância. “Hoje, felizmente, temos muitos recursos de intervenção. Métodos como o DTTC, Prompt e Rest são validados internacionalmente e se mostram muito eficazes. O uso da comunicação aumentativa ou suplementar como suporte a terapia deve ser associado em muitos casos. É importante ainda entender a individualidade de cada criança, família e contexto cultural na hora de prescrever a melhor intervenção para cada caso.” 

O que os pais podem e devem fazer?

Um dos primeiros passos é procurar um fonoaudiólogo especializado na Primeira Infância e no desenvolvimento de fala e de linguagem. O profissional irá avaliar detalhadamente aspectos da fala, da linguagem, da comunicação e cognição, além das praxias da criança para que seja elaborado um plano de intervenção adequado levando em consideração o ambiente e o contexto familiar no qual a criança está inserida. Ana Leonor explica que a intervenção deve ser iniciada assim que os pais identificarem os primeiros sinais de atraso da fala, geralmente a partir de 12 a 14 meses de vida do bebê.

A especialista reforça ainda que, embora o fonoaudiólogo seja o profissional adequado para tratar a Apraxia de Fala na Infância, outros profissionais como os terapeutas ocupacionais (TO) exercem importante papel nesse processo de reabilitação. Em alguns casos, pode ser importante o suporte de uma equipe mais robusta, incluindo fisioterapeutas, psicopedagogos e psicólogos. A participação da família é também fator essencial no tratamento. “A intervenção gira em torno desse treinamento familiar. O trabalho é focado no acompanhamento e no desenvolvimento parental, para que os pais saibam como estimular seus filhos da melhor forma”, esclarece Ana Leonor.

Uma dica é criar vínculos por meio de diálogos, cantigas, conversas, leituras e brincadeiras. “As melhores oportunidades de comunicação entre pais e filhos estão dentro do ambiente doméstico, nas atividades do dia a dia”, conta.

O Instituto Fale é o principal centro de referência para a Primeira Infância em Brasília. Nossos profissionais são especialistas em desenvolvimento da linguagem, fala, cognição e habilidades motoras. Fazemos atendimento bilíngue e provemos total acolhimento às famílias atendidas. Agende aqui sua primeira consulta.